11 de dezembro de 2009

Come te, pastorella

Os fãs de óperas do mundo inteiro certamente já ouviram muito o nome de Claudio Monteverdi. O italiano, nascido em 1567, é tido como o "pai da ópera". Tal título se deve a L'Orfeo, sua primeira peça do gênero, e uma das primeiras de que se tem conhecimento. L'Orfeo é uma dramatização do mito grego que narra a jornada de Orfeu para resgatar sua amada - Eurídice - do Tártaro, a representação do inferno. O mito de Orfeu inspirou óperas não apenas de Claudio, como também de Landi, Sartorio, Telemann, Gluck e Offenbach. Contudo, a de Monteverdi é tida como a primeira grande ópera escrita.

Entretanto, a obra do compositor italiano abrange muito mais do que seu pequeno repertório operístico. Monteverdi compôs uma série importantíssima de madrigais (peças vocais de conteúdo não religioso) e um respeitável repertório sacro.

Claudio Monteverdi iniciou sua carreira de músico na corte de Mântua, aos vinte e dois anos de idade. Naquela ocasião, atuava como coralista e violista. Já havia escrito algumas peças, publicadas a partir de 1582, quando contava com quinze anos de idade. Sabe-se que, até fins da década de 1610, os madrigais ocupavam a maior parte da obra de Monteverdi. Ao todo, são nove livros, oito deles publicados enquanto o compositor era vivo. Observando o estilo desses madrigais, em ordem cronológica de suas publicações, é notável o desenvolvimento do contraponto renascentista - caracterizado pela abundância de vozes - para composições explorando um número menor de linhas melódicas, presentes em grande número no período barroco. Também foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do acompanhamento instrumental para o canto, coral ou monódico. Por essas razões, Monteverdi é tido como um dos principais compositores da transição do Renascimento para o Barroco.

Em 1613, foi nomeado mestre do coro e diretor da Capela de São Marcos, em Veneza. Essa talvez seja uma explicação para a abundância de obras sacras escritas nos últimos trinta anos de sua vida. Tal produção tornou-se ainda mais dedicada a partir de 1632 quando, após a morte de sua esposa, Claudio ordenou-se padre.

Monteverdi faleceu em 1643, aos setenta e seis anos de idade, deixando um respeitável repertório sacro, profano e operístico. Dos compositores renascentistas, assina a obra que chegou com mais vida e admiração aos dias atuais.

O que trago aqui hoje é um madrigal, do nono livro, publicado postumamente, Bel pastor dal cui bel guardo. Sua estrutura tende ao estilo barroco: originalmente, foi composto para duas vozes, e um acompanhamento em alaúde ou baixo contínuo. No refrão (é fácil identificá-lo: ambas as vozes se perguntam: _Come che? _Come te pastorella, tutta bella), podemos ver algumas das progressões tão exploradas nos anos que seguiriam. Sua letra mostra um belo diálogo, em que um pastor declara seu amor a uma ninfa.

Não consegui ainda encontrar uma tradução decente para o diálogo. Enquanto isso, vou tentar (com o auxílio do Google, cuja tradução extremamente literal fez várias frases perderem o sentido) fazer uma tradução macarrônica da primeira estrofe, de alguém cujo italiano não passa muito do Allegro ma non troppo.

Ninfa: Belo pastor, de cujo belo olhar
Jorra fogo, pelo qual eu ardo
Me amas tu?

Pastor: Sim, coração meu
Ninfa: Como eu te desejo?
Pastor: Do meu coração
Ninfa: Diga-me, quanto?
Pastor: Muito, muito
Ninfa: Como a quê?
Pastor: Como a ti, bela pastora

Bem, é algo nessa ordem...





Download aqui

Nenhum comentário:

Postar um comentário