O Renascimento, como levou grandes mudanças à mentalidade do homem europeu, também as provocou em sua arte. Hoje, a pintura da renascença é apreciada em caríssimos quadros, ao lado de valiosas esculturas e objetos artísticos, nos mais conceituados museus do planeta. Todavia, a música desse período não permaneceu tão cultuada pelo grande público como as artes plásticas. Isso se deve à mudança da notação musical que houve na época, à perda de vários, vários e vários papéis com peças manuscritas e, consequentemente, ao pequeno número de conjuntos que se dedicam à sua divulgação entre o público. Atualmente, o que mais é popular concentra-se do período barroco em diante, e muito do que foi produzido anteriormente perde-se na memória das pessoas.
Basicamente, as peças musicais - tanto na Idade Média quanto no Renascimento - exploravam a voz humana, uma vez que não havia instrumentos musicais desenvolvidos como temos hoje. Os corais, então, eram incansavelmente explorados. Havia dois grandes grupos de corais: os madrigais (corais profanos) e os motetos (corais religiosos).
O francês Josquin des Prez, nascido na década de 1440, pode ser considerado um dos grandes compositores de sua época. Devido à falta de documentos confiáveis, pouco hoje se sabe sobre sua vida, mas muito de sua obra chegou até nós, com o advento da imprensa moderna, e a consequente impressão de partituras, no início do século XVI.
Des Prez desenvolveu consideravelmente o contraponto. Vale lembrar que, até a Idade Média, era comum cantos serem entoados em uníssono, seja por um só trovador, seja por um grupo maior de pessoas, podendo chegar até um coro de monges. A exploração de duas ou mais vozes diferentes simultaneamente começou a ter seu lugar na renascença. Ainda não havia a polifonia rebuscada e ornamentada do barroco, mas o contraponto começou a tomar forma por volta do século XV. Des Prez foi um dos responsáveis por seu desenvolvimento. Explorou o uso da imitação, da polifonia. Josquin foi o primeiro compositor a ter impresso um volume de partituras com peças exclusivamente de sua autoria. Trago, agora, um lamento composto em 1497. Um moteto chamado "La Déploration de Johannes Ockeghem" (ou "Nymphes des Bois"). A letra é baseada em um poema de Jean Molinet, e lamenta, às ninfas, a morte do amigo - e também compositor - Jean Ockeghem.
"Ninfas dos bosques, deusas das fontes,
Cantores célebres de todas as nações,
Tomai vossas vozes claras e sublimes
Em penetrantes gritos e lamentações.
Porque os cruéis vexames de Atropos
Levaram o vosso Ockeghem,
Um verdadeiro tesouro da música e mestre,
Que já não pode escapar da morte,
E, dolorosa perda, jaz sob a terra.
Concedei-lhes o descanso eterno, Senhor,
E que a perpétua luz sobre eles brilhe.
Vesti-vos com trajes de luto:
Josquin, Brumel, Pierchon, Compère.
Que vossos olhos se encham de lágrimas,
Porque perdemos vosso pai.
Descanse em paz.
Amém."
Trago uma gravação com o coro Pro Cantione Antiqua, regido por Bruno Turner.
P.S.: 3'48'', tentem ouvir a voz dos baixos. A melodia é magnífica.
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4 de dezembro de 2009
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