20 de janeiro de 2011

Para além do Ibirapuera

A cada dois anos, o Parque do Ibirapuera, na capital paulista, recebe um dos principais eventos de arte contemporânea do planeta - a Bienal de São Paulo. Um gigantesco pavilhão construído próximo ao Museu de Arte Moderna torna-se, por algumas semanas, a morada de esculturas, instalações, filmes, pinturas, fotografias, desenhos dos principais artistas do mundo inteiro produzidos nas últimas décadas. Após as semanas de exposição, recortes desse acervo partem para outras cidades, em exposições temporárias, facilitando o acesso do público à arte moderna e contemporânea. Um convite a receber novas visões, novas expressões de novos e não-tão-novos artistas, de Jean-Luc Godard a Gil Vicente.


De 18 de janeiro a 20 de março, a cidade de Belo Horizonte receberá a exposição 29ª Bienal de São Paulo – Obras Selecionadas, abrindo a itinerância da Bienal de 2010. Serão cerca de cento e noventa trabalhos expostos, de 35 artistas brasileiros e estrangeiros. Esta edição da Bienal teve como tema as relações entre a arte e a política. Estarão presentes, entre vários outros, os polêmicos auto-retratos de Gil Vicente como se assassinasse diversas autoridades (FHC, Lula, Joseph Ratzinger, Elizabeth II, Ariel Sharon e outros); as pequenas esculturas Las Joyas de la Corona, de Carlos Garaicoa, representando edifícios que representem poder político; o magnífico curta Je Vous Salue, Sarajevo, do diretor francês Jean-Luc Godard, reflexão sobre os nacionalismos tendo como base os conflitos étnicos na Guerra da Bósnia:



Visitar 29ª Bienal de São Paulo foi, para mim, uma experiência fantástica. Ainda não tive a oportunidade de ver a exposição em Belo Horizonte, porém soube que uma de minhas obras prediletas veio à capital mineira: o curta-metragem Dissonant, da indiana Manon de Broer, e é sobre ela que venho agora falar um pouco.

Dissonant nasceu do desejo da diretora em trabalhar no cinema a percepção e a sensação de como se relacionam o som/o silêncio e a imagem, a maneira com que o som (ou a ausência dele) acrescenta ao visual uma noção maior e mais abrangente do espaço, e a dissociação do que usualmente vemos e ouvimos ao mesmo tempo. Manon, para isso, convidou a dançarina Cynthia Loemij, do conjunto belga Rosas para protagonizar seu filme.

O enredo é, a princípio, simples. Tem-se, num primeiro momento, a dançarina ouvindo atentamente à segunda sonata para violino solo de Eugène Ysaye em uma sala vazia. Em seguida, ela passa a montar, no silêncio, uma interpretação coreográfica do que havia acabado de ouvir.



Esse roteiro, embora pareça pobre, ganha uma nova forma com a riqueza dos sons captados pela diretora com microfones espalhados pela sala e pelo corpo da bailarina. A dureza dos passos, a respiração ofegante, o baque de cada aterrisagem são os únicos sons ouvidos na coreografia, e contribuem com a construção de uma idéia completa do espaço usado por ela. E, recorrendo à memória, Cynthia monta uma sucessão de vigorosos movimentos baseados na cadência e na expressividade da sonata de Ysaye que havia pouco ouvira, permitindo ao espectador que tenha contato com todo o trabalho, o cansaço, a ansiedade da artista enquanto prepara sua apresentação.

Dissonant foi filmado em filme 16mm, e tem cerca de dez minutos de duração.



As obras selecionadas da 29ª Bienal de São Paulo estão expostas nas galerias do Palácio das Artes, em Belo Horizonte até o dia 20 de março. Horários, marcações de visitas agendadas, lista de obras e artistas podem ser vistos no site da Fundação Clóvis Salgado.

Além de BH, Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Araraquara, Campinas, São Carlos, Piracicaba, Santos e Ribeirão Preto receberão recortes da exposição paulistana.
Programem-se, não deixem de visitar.

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