De 18 de janeiro a 20 de março, a cidade de Belo Horizonte receberá a exposição 29ª Bienal de São Paulo – Obras Selecionadas, abrindo a itinerância da Bienal de 2010. Serão cerca de cento e noventa trabalhos expostos, de 35 artistas brasileiros e estrangeiros. Esta edição da Bienal teve como tema as relações entre a arte e a política. Estarão presentes, entre vários outros, os polêmicos auto-retratos de Gil Vicente como se assassinasse diversas autoridades (FHC, Lula, Joseph Ratzinger, Elizabeth II, Ariel Sharon e outros); as pequenas esculturas Las Joyas de la Corona, de Carlos Garaicoa, representando edifícios que representem poder político; o magnífico curta Je Vous Salue, Sarajevo, do diretor francês Jean-Luc Godard, reflexão sobre os nacionalismos tendo como base os conflitos étnicos na Guerra da Bósnia:
Visitar 29ª Bienal de São Paulo foi, para mim, uma experiência fantástica. Ainda não tive a oportunidade de ver a exposição em Belo Horizonte, porém soube que uma de minhas obras prediletas veio à capital mineira: o curta-metragem Dissonant, da indiana Manon de Broer, e é sobre ela que venho agora falar um pouco.
Dissonant nasceu do desejo da diretora em trabalhar no cinema a percepção e a sensação de como se relacionam o som/o silêncio e a imagem, a maneira com que o som (ou a ausência dele) acrescenta ao visual uma noção maior e mais abrangente do espaço, e a dissociação do que usualmente vemos e ouvimos ao mesmo tempo. Manon, para isso, convidou a dançarina Cynthia Loemij, do conjunto belga Rosas para protagonizar seu filme.
O enredo é, a princípio, simples. Tem-se, num primeiro momento, a dançarina ouvindo atentamente à segunda sonata para violino solo de Eugène Ysaye em uma sala vazia. Em seguida, ela passa a montar, no silêncio, uma interpretação coreográfica do que havia acabado de ouvir.

Esse roteiro, embora pareça pobre, ganha uma nova forma com a riqueza dos sons captados pela diretora com microfones espalhados pela sala e pelo corpo da bailarina. A dureza dos passos, a respiração ofegante, o baque de cada aterrisagem são os únicos sons ouvidos na coreografia, e contribuem com a construção de uma idéia completa do espaço usado por ela. E, recorrendo à memória, Cynthia monta uma sucessão de vigorosos movimentos baseados na cadência e na expressividade da sonata de Ysaye que havia pouco ouvira, permitindo ao espectador que tenha contato com todo o trabalho, o cansaço, a ansiedade da artista enquanto prepara sua apresentação.
Dissonant foi filmado em filme 16mm, e tem cerca de dez minutos de duração.
As obras selecionadas da 29ª Bienal de São Paulo estão expostas nas galerias do Palácio das Artes, em Belo Horizonte até o dia 20 de março. Horários, marcações de visitas agendadas, lista de obras e artistas podem ser vistos no site da Fundação Clóvis Salgado.
Além de BH, Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Araraquara, Campinas, São Carlos, Piracicaba, Santos e Ribeirão Preto receberão recortes da exposição paulistana.
Programem-se, não deixem de visitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário