Lamento Della Ninfa de Monteverdi, é uma das mais belas e expressivas peças da música renascentista. Ao escutarmos tal peça, conseguimos viajar a uma paisagem bucólica, onde na beira de um rio enxergamos uma ninfa chorar e lamentar a perda de um amante, que a ela era infiel.
Nessa composição, Monteverdi com sua nova concepção de fraseado, prepara o terreno a uma linguagem musical que se apóia na emoção, e estava destinada a marcar toda uma época. Ele obtém no âmbito das emoções uma nova forma de expressão musical, nunca perdendo a leveza, ao parear a voz e os instrumentos, podendo assim, sempre recorrer à música como uma linguagem do amor.
Estruturalmente falando, percebe-se nessa peça um ostinato*, feito pelos baixos, que constituirá uma forte expressão de lamento. Com tais aspectos, cria-se a imagem de uma Ninfa que lamenta a perda de seu amado, sendo rodeada por dois trios que contam sua história.
Esta peça foi extraída do Libro Ottavo de Madrigali, conhecido como Madrigali Guerrieri et Amorosi (Madrigais de Guerra e de Amor). Este foi impresso em um momento em que a arte vocal do madrigal havia cedido sua posição dominante a formas menos densas. Como a cantata e o duo, este livro de madrigais aparece como uma espécie de épodo** aos tempos passados.
Monteverdi continua sendo um dos compositores mais importantes a levar o contraponto renascentista ao canto monódico***, que pode ser claramente percebido nesta peça.
Lamento Della Ninfa é uma peça da qual não há muito que falar, uma vez que as emoções são individuais. Espero que gostem da peça e sintam a expressividade existente na melodia.
Glossário
*Ostinato: Um motivo ou frase musical que é persistentemente repetido numa mesma altura, sendo que a idéia repetida pode ser um padrão rítmico, parte de uma melodia ou uma melodia completa.
**Épodo: Nos coros de tragédias, parte lírica que se cantava depois da estrofe e da antístrofe.
***Monódico: cantado a uma só voz.
Letra traduzida:
CORO
Não havia Febo ainda
trazido ao mundo o dia,
Quando uma donzela
fora da própria morada saiu;
Sobre seu pálido rosto
Vislumbrava-se sua dor.
Amiúde soltava-se-lhe
um grande suspiro do coração.
Se, pisando nas flores
errava,ora aqui, ora acolá,
Os seus perdidos amores
Assim chorando vai:
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NINFA E CORO
“Amor”, dizia o céu mirando,
o passo parou. “Amor, Amor, onde está a fidelidade que o traidor jurou?
Pobrezinha...
“Faça que retorne o meu amor assim como ele se foi,Ou tu me matas para que eu não mais me atormente.”
Pobrezinha! Ah não, não, por tanta frieza não pode sofrer.
“Não me atormente, não me atormente mais.
Não, não quero mais que ele suspire, a não ser longe de mim.
Não, não, que os mártires não mais me dirão em fé
Não mais me dirão em fé.
Porque dele me aflijo
Todo orgulhoso está
Se dele eu fujo, ainda me pedirá?
Se o olhar dela é mais sereno, como o meu já não é mais
Ela não abraça em seu peito, Amor, tão bela fidelidade
Nem nunca mais tão doces beijos nunca nunca,
Daquela boca terás
Nem mais suaves ahh,
Cala-te, cala-te, cala-te
Cala-te, porque sabe-o demais!
____________________
CORO
Assim entre prantos desde os nossos
Espalhava vozes para o céu,
Assim nos corações dos amantes
O amor mistura chama e gelo.
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A gravação é de Bernarda Fink, com o grupo Concerto Vocale, dirigido pelo sempre competente René Jacobs.
29 de dezembro de 2010
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