24 de junho de 2010, enfim estreou o tão comentado e esperado trabalho da equipe de John Neschling. Diante de um Palácio das Artes cheio, porém não lotado, a Companhia Brasileira de Ópera fez a primeira apresentação de sua vida - uma montagem inovadora da famosíssima "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini.
A montagem da recém-formada companhia teve seus muitos méritos, e também lá seus excessos. Era sabido que personagens reais interagiriam com cenário e personagens projetados em uma tela. Só não esperávamos que tal realização, da maneira que foi feita, fosse arrancar tantas gargalhadas do público. Desde as trapalhadas do compositor Rossini escrevendo em sua cama até a hilária intertextualidade feita com "As Bodas de Fígaro" de Mozart no 'Largo al factotum'. Imaginava que a idéia de misturar projeções e atores no palco poderia ter um resultado tanto muito bom quanto muito ruim. E foi o primeiro, graças à competência dos profissionais que controlaram a tela, em sincronia e uniformidade fenomenal em relação aos atores - o que não quer dizer que as projeções foram mil maravilhas.
Musicalmente, foi uma récita de altos e baixos. A orquestra iniciou com pouco brilho, por vezes se sobrepondo aos cantores, mas cresceu muito ao longo da apresentação, principalmente do segundo ato em diante. Terminou excelente, muito além do que esperava de um grupo que se apresentava pela primeira vez. Os cantores, no geral, foram muito bons. Destaque para o nosso velho conhecido Leonardo Neiva (Fígaro) e Gianluca Breda (voz maravilhosa, interpretou Basilio). Também brilhou a soprano Anna Pennisi (Rosina), que é excelente cantora, mas como atriz deixou a desejar (nos dias 25 e 27, o elenco será outro).
E os excessos ficaram por conta de algumas piadas infames utilizadas, como bandos de passarinhos atacando Figaro e Rosina com jatos de... bem, vocês entenderam; ou um Almaviva fantasiado de John Lennon e tocando guitarra elétrica enquanto tenta enganar Bartolo, ao dizer que havia sido enviado pelo "enfermo" Basilio para dar aulas de canto a Rosina. Fora alguns efeitos sonoros estranhos utilizados.
Me pareceu que a grande maioria das pessoas gostou muito. Outras se mostraram indignadas com a montagem, dizendo achar um absurdo o uso cenários de desenho animado projetados numa tela, ou que a montagem foi demasiado espalhafatosa. Na minha opinião, os prós foram maiores que os contras. Prefiro montagens com cenários reais, sem dúvida nenhuma. Houve brincadeiras desnecessárias, houve trechos em que as projeções foram ruins (às vezes até desviando a atenção do especador com enorme quantidade de imagens e efeitos mais que supérfluos). Porém, valeu pela boa música, pelas gargalhadas que as - várias - piadas pertinentes nos renderam, por ver um novo grupo destinado à música erudita nascer. Espero que a Companhia ainda tenha muitíssimos anos de boas produções em nosso país - e sem mais hippies em óperas italianas, alemãs ou de qualquer autor anterior a 1960.
Parabéns, Neschling, parabéns, Joshua Held, parabéns a todos os músicos e participantes do projeto. Que tenham todo o sucesso do mundo nessa nova empreitada, pois uma boa companhia de ópera será excelente para o nosso país.]
E, de brinde, a abertura da ópera, com Furtwängler regendo a Filarmônica de Berlim, em 1935:
25 de junho de 2010
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