Alguns leitores vêm comentando comigo que encontravam algumas dificuldades em compreender alguns termos usados nas postagens de até agora. Por isso, resolvi criar um pequeno glossário, com algumas idéias básicas de teoria musical. São elas: contraponto, escala, harmonia, pulsação e som, não necessariamente nessa ordem.
Comecemos:
O som
Todo e qualquer som apresenta, obrigatoriamente:
*Duração - é o tempo de produção do som.
*Intensidade - é a propriedade de o som ser mais fraco ou forte.
*Timbre - é a qualidade do som, que permite reconhecer a sua origem. É por meio do timbre que identificamos se um som vem de um piano, de um violino, ou até mesmo distinguimos a voz de pessoas distintas.
E a grande maioria apresenta, também:
*Altura - é a propriedade de o som ser mais grave ou agudo.
O som se propaga por meio de vibrações. Alguma superfície que se move gera uma vibração nas moléculas do ar (ou água, ou outra substância líquida/gasosa) ao seu redor. Essas moléculas vibram com freqüência definida, em vai-e-volta, empurrando as moléculas vizinhas na mesma freqüência, em todas as direções, até atingir o tímpano humano, uma membrana delicada que também vibra, empurrada pelas moléculas do ar que vibram à sua volta, que envia a informação acerca da freqüência para o cérebro, que a interpreta como som, caso esteja na faixa entre 20Hz e 20.000Hz, aproximadamente. A vibração das moléculas no ar, à medida que aumenta a distância entre a origem do som, perde força, mas mantém sua freqüência. Por isso, não há som no vácuo. O som depende de um segundo material para que se propague.
As vibrações sonoras não acontecem em apenas um sentido e direção, mas sim em centenas de direções, o que nos permite identificar diversos timbres. Daí, conclui-se que um som natural, como qualquer um não-sintetizado que ouvimos, é uma mistura de centenas de movimentos, centenas de sons diferentes.

Acima, representação gráfica de vibração provocada por onda sonora. Percebe-se a variedade do comprimento das ondas, que sugere a variação da intensidade do som durante o trecho de determinada gravação. Também é perceptível a enorme diversidade de formatos das ondas no gráfico, o que prova que há milhares de vibrações (sons) diferentes no que nosso ouvido interpreta como apenas um som. Ranhuras com formato semelhante ao das ondas representadas neste gráfico estão presentes nas superfície dos discos de vinil, por exemplo.
A escala musical
Como foi dito, um som é composto por vibrações não-uniformes. Apesar de não-uniformes, são constantes. Em outras palavras, em um som definido, há uma série de diferentes vibrações que se repete, ordenadamente, enquanto o som é propagado. E esses sons, quando constantes, têm altura definida, o que gera as notas musicais.
Para que seja composta uma música, as notas musicais devem ser organizadas em escalas, que variam do grave para o agudo, e vice-versa. Diferentes escalas foram utilizadas em diferentes épocas da história (embora as que mais foram utilizadas na música erudita desde o Barroco, e são utilizadas até hoje na música popular são as chamadas escalas tonais). Escala, por definição, é um conjunto de notas que sobem ou descem em “degraus”, entre os quais o intervalo varia segundo uma ordem definida.
As escalas ocidentais, em geral, possuem sete notas (um clássico exemplo é a de Dó jônio: Dó – Ré – Mi – Fá – Sol – Lá – Si – Dó). Há também as de cinco notas (pentatônicas), muito utilizadas na música chinesa, celta e africana. As notas são separadas por intervalos, que correspondem à distância entre uma nota e outra. A sensação de “vibração” estranha que nos causa a música indiana ou chinesa deve-se ao fato de explorarem intervalos demasiado pequenos entre as notas, por exemplo. No ocidente, o menor intervalo tradicionalmente explorado é o semitom, que corresponde ao intervalo entre si e dó, ou mi e fá, por exemplo. No oriente, os intervalos chegam a ser oito vezes menores. As escalas ocidentais mais utilizadas são as denominadas escalas tonais, ou escalas maiores e menores, utilizadas em praticamente todo o repertório tocado nas rádios de hoje em dia, escalas soberanas desde o fim do Renascimento. Nelas, há um "centro de gravidade". Isso quer dizer: os efeitos de repouso, afastamento, tensão, são gerados à medida em que se afasta ou aproxima de uma nota principal, chamada tônica.
A harmonia
Para que entendamos o que é a harmonia, e sua importância na construção da música, separemos os instrumentos musicais em dois grandes grupos: os melódicos e os harmônicos. Entendamos por instrumento melódico todo aquele que apenas toca uma ou duas notas de cada vez. É o caso do violino, do violoncelo, do contrabaixo, da flauta, do trompete, do clarinete, da voz humana (desde que seja de apenas um cantor, sem acompanhamento). Uma melodia tocada por eles pede um acompanhamento de outro instrumento, para que sua idéia fique mais clara para o ouvinte Melodia, em tese, é uma sucessão de sons de alturas e durações diferentes, que tem um sentido lógico. Os instrumentos harmônicos, por sua vez, conseguem emitir várias notas simultaneamente. Sendo assim, são capazes de tocarem uma música sem necessidade de acompanhamento, pois fazem a melodia e a sua base, outras notas menos destacadas que ajudam a completar, dar sentido à melodia. A essa base, chamamos harmonia. É o que um cantor popular toca em seu violão, para acompanhar seu canto, por exemplo. Por definição, é a ciência que estuda os aglomerados de diferentes notas e a maneira de concatená-los. Os instrumentos harmônicos são, entre outros, o piano, o violão, a harpa, o cravo, o órgão.
Não é necessário um instrumento harmônico para que a harmonia seja construída. Ela pode ser feita por vários instrumentos melódicos, cada um tocando notas diferentes. É o que acontece em uma orquestra, por exemplo. Um grupo de instrumentistas toca a melodia principal, enquanto vários outros tocam diferentes notas para acompanhá-la. Um flautista ou violinista, por sua vez, ao apresentar-se em recital, quase sempre vem acompanhado de um pianista, responsável pela construção da harmonia na melodia tocada pelo solista. A melodia que toca pode, perfeitamente, ser apresentada sozinha, mas fica “incompleta”, pois a harmonia define momentos de repouso, tensão; alegria e melancolia; meio e fim.
O contraponto
A uma melodia simples, chamamos voz. A idéia de “contraponto”, vem de ponto-contra-ponto; nota-contra-nota. Definimos, então contraponto como duas ou mais vozes musicais sobrepostas. Entre as vozes, pode haver diversas relações: de imitação, de variação, de apresentação e conclusão. As vozes são independentes, mas a música torna-se infinitamente mais rica com o contraponto, desde que bem explorado. O contraponto também pode contribuir com a construção da harmonia, já que apresenta mais de uma nota tocada simultaneamente.
O contraponto teve no Barroco seu período de maior desenvolvimento. E é facil percebê-lo simplesmente pela audição. Johann Sebastian Bach escreveu vinte invenções a duas vozes, e outras vinte a três vozes, para teclado, nas quais o contraponto é bastante destacado.
Tentem percebê-lo, na primeira invenção a duas vozes. Ao piano, o canadense Glenn Gould:
A pulsação
A música tem sua espinha dorsal, o tempo (muitas vezes chamado – erroneamente – de ritmo). Sem o tempo, ela desabaria. O tempo é quase sempre uma batida ou pulsação regular, normalmente fácil de ser acompanhada batendo palmas, os pés, ou dançando. Essa batida ou pulsar rítmico é medida em seções regulares, chamadas compassos. Tipos diferentes de música têm determinado número de tempos dentro de cada compasso. A valsa, por exemplo, é marcada pelo clássico um, dois, três; um, dois, três. Cada “um” é apoiado, ou seja, mais forte, apoio que se repete a cada três tempos. Então, o compasso da valsa é formado por três tempos. Os compassos mais comuns são os chamados binário (dois tempos), ternário (três tempos), quaternário (quatro tempos), binário composto, ternário composto e quaternário composto (seis, nove e doze tempos, respectivamente).
A organização da música em compassos não era feita até fins da Idade Média; e alguns compositores contemporâneos igualmente a abandonaram, de forma que suas composições não têm uma marcação definida do tempo.
O ritmo é a proporção entre as durações de sons em uma voz. Uma boa maneira de percebê-lo é tentar cantar uma canção sem sua melodia, em uma nota só, ou bater em uma superfície a cada nota cantada.
Bem, espero ter ajudado em algo. Devo ainda acrescentar mais algumas idéias a este gossário posteriormente. Para qualquer dúvida, toda a equipe está à disposição de vocês, leitores.
Em nome da equipe, desejo a todos um ótimo ano de 2010!
Nossa!Que orgulho de você!
ResponderExcluirfiquei encantada! Uma aula perfeita, mais didática do que eu poderia esperar e imaginar. Meus pobres ouvidos, ignorantes a essas sutilezas, vão prestar mais atenção a cada detalhe musical de agora em diante.
Como sei que viver é aprender.. ainda melhoro!! Beijos e parabéns!