21 de dezembro de 2009

Uma história na Zona Oeste

Dentre os profissionais e estudantes da música erudita, os musicais sempre causaram grandes divergências. Há quem os defenda, quem os aprecie. Há quem os odeie, quem os despreze. Mas é indiscutível o fato de que um musical que, adaptado ao cinema, venceu dez Oscar, três Globos de Ouro e um Grammy, sendo considerado o segundo maior musical da história do cinema (atrás de Singing in the Rain) merece uma atenção especial. Trata-se de West Side Story, do maestro e compositor norte-americano Leonard Bernstein.

Bernstein nasceu na cidade de Lawrence, em 1918, em uma família judia de raízes eslavas. Estudou música em Harvard e no instituto Curtis, onde foi aluno de regência de Walter Piston e Fritz Reiner. Além da regência, dedicou-se ao estudo do piano, embora não tenha se apresentado com tanta frequência como pianista. Não obstante, sua gravação da Rhapsody in Blue, de Gershwin, tocando e regendo a Columbia Symphony, é tida como a definitiva.

Não creio que seja importante fazer aqui uma grande biografia de Leonard. Vale citar que Bernstein é mais conhecido por seu trabalho como regente, pelo qual trabalhou à frente de algumas das mais importantes orquestras do planeta, como as Filarmônicas de NY, Viena e Israel. Teve uma vida pessoal um tanto quanto tumultuada, gerando polêmica ao abandonar a esposa, a atriz Felicia Montealegre Cohn, com quem teve três filhos, para viver com seu amante, Tom Cothran. Faleceu em 1990, vítima de pneumonia.

O maestro Bernstein é tido como uma das mais influentes figuras da música do século XX. Suas leituras de peças românticas, modernas e contemporâneas são admiradas no meio erudito, enquanto algumas de suas interpretações de compositores clássicos não são bem aceitas. O compositor Bernstein, que foi influenciado por Mahler, Gerswin, Ives e Copland, é aclamado em todo o mundo, por peças como Fancy Free, On the Town, Candide, On the Waterfront e, principalmente, West Side Story.

West Side Story foi uma encomenda recebida por Bernstein, em meados da década de 50, para um musical da Broadway. O roteiro é uma adaptação do clássico Romeu e Julieta, de Shakspeare, para as violentas ruas da Nova York do meio do século. Todo o texto shakespeariano foi simplificado, a linguagem foi 'massificada' e a tragédia transformou-se em melodrama, teatralmente falando. Foi uma forma de criticar a sociedade nova-iorquina da época. No lugar de tradicionais famílias inimigas, temos duas gangues da zona oeste, os Jets, formada por brancos norte-americanos, da qual participa Tony, e os Sharks, descendentes de porto-riquenhos, da qual faz parte a bela Maria. Na música, por isso, vê-se a forte presença do jazz, do mambo e de outros ritmos latino-americanos. A peça estreou na Broadway em 1957, e ganhou uma adaptação às telas do cinema quatro anos depois. A equipe de produção contava com grandes nomes, como Jérôme Robbins (coreógrafo), Robert Wise (diretor) e os atores Natalie Wood, Richard Beymer, Rita Moreno, George Chakiris e Russ Tamblyn. A peça teatral e o filme contam a história de amor de Tony e Maria, tendo os atritos entre a duas gangues como pano de fundo. Mesmo com cenas de dança introduzidas entre passagens cruciais do drama, e uma adaptação de Romeu e Julieta que deixa a desejar, West Side Story faturou dez prêmios Oscar em 1962, incluindo o de melhor filme.

Para as salas de concerto, foi feita uma redução do musical, para orquestra - as Danças Sinfônicas. Essa redução conta com alguns dos principais trechos que compõem a peça original, não necessariamente na orem em que aparecem. Inicia-se com um pequeno tema dos metais, no Prólogo, e nove curtos acordes, até que os músicos estalam seus dedos, e um saxofone inicia seu tema. É a apresentação dos Jets, a gangue de Tony. Uma canção que, no original, intimida a quem ousar passar por seu caminho. É uma abertura bem jazzística, considerando quem representa. Em seguida, entra o mais belo e conhecido trecho da suíte, Somewhere. É, ao mesmo tempo, uma declaração de amor dos dois amantes e um consolo, diante dos entraves que as gangues oferecem a seu romance ("Haverá um tempo para nós/ Algum dia, um tempo para nós/ Um tempo juntos, com tempo para passar/ Tempo para aprender / Tempo para se importar/ Algum dia/ Em algum lugar/ Encontraremos um novo modo de viver/ Encontraremos um modo de perdoar/ Em algum lugar"). Uma trompa inicia a canção, enquanto os violinos fazem um contra-canto, até que estes assumem o papel principal, no belo refrão do movimento. O Scherzo, que se segue, é um movimento alegre, brincando e preparando o tema do Somewhere que, na peça, viria logo depois. Nas danças, seu fim é emendado com o Mambo, uma grande festa dos Sharks, uma dança repleta do swing latino. O curto Cha-Cha, na sequência, lembra o tema que Tony canta em sua canção, "Maria". Um americano declarando seu encantamento por uma porto-riquenha, em um movimento (no Cha-Cha, não em Maria) tipicamente latino. Segue a trilha de uma cena de encontro de Tony e Maria, emendada à Cool Fugue, uma dança jazzística dos Jets, outra afronta a quem cruzasse seu caminho. Até que surgem os Sharks, e tem-se início The Rumble, uma briga entre as duas gangues (assim como a de Romeu e Julieta, entre Capuletos e Montecchios, em que Romeu mata Tebaldo), Tony mata o rival, Bernardo. E, por fim, o Finale. Inicia-se com as cordas tocando o tema que Maria canta em I Have a Love ("Tenho um amor, e é tudo o que eu tenho/ Que mais posso eu fazer?"). Por fim, Tony leva um tiro, e diz suas últimas palavras (repete as promessas de Somewhere) nos braços de Maria. Por fim, Tony, já sem vida, recebe o último beijo de sua amada porto-riquenha. Ao som do tema de Somewhere.

A gravação é da Royal Philharmonic, sob a regência de Carl Davis.



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